Foto: Renan Costa de Negri

Materiais audiovisuais abordam trajetória de artista que faleceu em 11 de junho de 2025 aos 93 anos; lançamento será em Charqueada, cidade onde ele viveu em seus últimos anos.

Em um mundo onde as histórias frequentemente se perdem no tempo, valorizar e registrar a memória artística é imprescindível. Com esse intuito, acontece na próxima quarta-feira, 6/8, às 19h, no Centro Cultural de Charqueada (SP), o lançamento oficial dos documentários "Entre Risos e Memórias: a vida de Zé Risonho em documentário" e "Zé Risonho: um retrato da cultura brasileira", de diretores de Piracicaba (SP). A entrada é gratuita. Os materiais audiovisuais estarão disponíveis no Youtube na quinta-feira, 7/8, às 20h.

"Entre Risos e Memórias: a vida de Zé Risonho em documentário" tem direção de Renan Costa de Negri e "Zé Risonho: um retrato da cultura brasileira” é dirigido por Chico Galvão. Ambos os materiais audiovisuais trazem à tona a trajetória de Paulino Fernandes da Silva, conhecido como Zé Risonho, cuja história é marcada por valores culturais, sonhos e superações que o elevam a um patamar de grandeza na cultura brasileira.

A concretização do projeto que deu origem aos documentários contou com apoio da Prefeitura de Charqueada, por meio da Secretaria da Cultura, a partir de incentivo econômico da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura e Governo Federal.

Foto: Renan Costa de Negri

Encantou Piracicaba e o Brasil

Com sua sanfona e também em seu papel como palhaço, Zé Risonho encantou Piracicaba e região, ao marcar a trajetória artística da cidade e ser reconhecido por diferentes instituições. O artista em 2022, foi morar com sua filha, Ijuciara Fernandes, em Charqueada (SP), cidade onde faleceu no dia 11 de junho de 2025, aos 93 anos. Ele manteve-se ativo até seus últimos anos, quando subiu ao palco com as bandas piracicabanas Malucos do Espaço e Cambalache.

Diretor de “Entre Risos e Memórias: a vida de Zé Risonho em documentário”, Renan Costa de Negri afirma que sempre gostou de registrar histórias de artistas. “O resgate dos materiais guardados em suas malas e a possibilidade de poder ouvir suas memórias, registrando-as em audiovisual, são a prova de que todo artista merece ter sua história contada”, diz.

Chico Galvão, diretor do documentário “Zé Risonho: um retrato da cultura brasileira”, ressalta a importância do artista. "A trajetória artística do Zé Risonho é um pouco a síntese da cultura brasileira, pouco valorizada pelo Estado, mas de uma riqueza imensa. O fato dele ter passado pelo rádio, pelo circo, televisão e cinema demonstra o quanto seu talento era versátil. Ele cantava, tocava sanfona, interpretava, era um artista completo. O curta-metragem que fiz sobre o Zé Risonho é um reconhecimento por tudo que fez pela cultura brasileira", diz.

Foto: Renan Costa de Negri

História

Nascido em 22 de junho de 1931, Zé Risonho teve seu nascimento registrado tardiamente, mas sua arte não esperou por burocracias. A infância no interior, em Presidente Bernardes, já prenunciava uma alma inquieta. Aos 15, movido pela paixão pela música e pelo cinema, mudou-se para São Paulo, onde a vida não foi fácil.

Os dias de faxineiro em hotel, dormindo no escritório, e o trabalho árduo na feira moldaram seu caráter, mas nunca abalaram seu espírito sonhador. Sua voz e carisma logo o levaram aos programas de calouros mais famosos da época, como o "Calouros Platina" de Homero Silva, na Rádio Tupi, e "Peneira Rodine", de Hélio de Araújo, na Rádio Cultura. Foi Luiz Gonzaga e sua "Asa Branca" que o guiaram pelo caminho do baião e do forró. Um encontro orquestrado por José Altafim, da Rádio Cultura, levou Zé Risonho à Praça da Sé para conhecer o Rei do Baião, num período em que a sanfona de Zé Risonho já ecoava no lendário Circo do Piolim, na Avenida São João. Com o grupo musical Os Cangaceiros, levou a alegria brasileira em turnês pela América do Sul.

Zé Risonho foi também um desbravador do cinema. Em 1957, sua participação como o indígena Curumim no filme "O Capanga", dirigido por Alberto Severi, foi um marco: a película foi pioneira na modalidade Cinemascope no Brasil. Mais tarde, no fim dos anos 50, a união musical com sua irmã resultou na dupla Zé Risonho & Maria Fulô, nome carinhosamente dado por Luiz Gonzaga.  Juntos, gravaram clássicos como "Toada ao Luar" e "Candangolândia". As aparições do artista em filmes como "A Opção", de Ozualdo Candeias, no papel de Urco em "O Trabalhão no Planalto dos Macacos", e tocando sua sanfona em "O Homem Que Virou Suco", de João Batista de Andrade, solidificam sua presença no imaginário cultural do país.

Nos últimos anos, marcou presença em filmes do piracicabano Cidão, morador do bairro Santa Rosa, que fez da sua paixão pelo cinema a produção de obras memoráveis, como “O Fotógrafo Azarado”.

Em sua última grande apresentação, na cidade de Mombuca (SP), agradeceu por poder pisar novamente no solo sagrado do palco. Sua filha, Ijuciara Fernandes, tem orgulho em afirmar: “meu pai viveu da arte. Enquanto muitos artistas fazem da arte um bico, meu pai fez da arte o trabalho de uma vida, e das demais funções um bico”, diz.

Fichas técnicas

"Entre Risos e Memórias: a vida de Zé Risonho em documentário" tem como diretor, produtor e filmmaker: Renan Costa de Negri; produção executiva: Zuleide Oliveira da Silva; pesquisadores: Ijuciara Fernandes e Maciel Ramos.

“Zé Risonho: um retrato da cultura brasileira”, é um filme de Chico Galvão, com produção de Ólhuz Filmes. Com Zé Risonho, Índia Aparecida e Ana Lucia Amaral; agradecimentos: TV Cultura, Eugênio Puppo, Assunção Hernandez, Fabrício Cavalcanti, Cinemateca Brasileira, Mairiporã Produções, Cidão, Marcelo João Pedro, Família Simões, Bailão do Cláudio, Centro de Memória do Circo, Guto Wagner, Thiago Altafini, Ijuciara Fernandes, Renan Costa e Maciel Ramos.

Texto: Renan Costa de Negri

Publicado por Danilo Telles / Grupo Metropolitana