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Nesta terça-feira (27), o
departamento jurídico do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Piracicaba,
São Pedro, Águas de São Pedro, Saltinho e Região informou que denunciou ao
Ministério Público do Trabalho a precarização das condições de trabalho e a substituição
de servidores efetivos por terceirizados na rede municipal de saúde em
Piracicaba. A denúncia sindical surge em meio a uma série de eventos que
revelam a complexidade da situação.
Vale lembra que, a Prefeitura
de Piracicaba foi notificada em fevereiro de 2025 sobre uma multa aplicada em 4
de junho de 2024, referente a horas extras não justificadas na gestão do
ex-prefeito Luciano Almeida. A autuação foi motivada pela prorrogação da
jornada de trabalho de funcionários além das duas horas diárias permitidas, sem
a devida justificativa legal.
A defesa da gestão Luciano
Almeida alegou necessidade das horas extras, mas o recurso foi negado em 2 de
julho de 2024 pelo coordenador-geral de Recursos do Ministério do Trabalho e
Emprego, Paulo Sillas Freitas Pinheiro. A penalidade pode levar à inscrição da
Prefeitura no CADIN (Cadastro de Inadimplentes) e na Dívida Ativa da União,
além de possibilitar a cobrança judicial do valor.
Em fevereiro deste ano, a
atual gestão de Helinho Zanatta informou que a Procuradoria Geral do Município
já estava avaliando medidas legais para lidar com a situação. Naquele momento,
a prefeitura destacou a existência de um decreto, emitido em dezembro de 2024,
ainda na gestão Almeida, que limitava as horas extras a 30 por servidor por
mês. A administração atual afirmou estar buscando alternativas para solucionar
a questão das horas extras e da multa aplicada.
Agora, o sindicato alega que
chefias de unidades de saúde em Piracicaba informaram aos servidores –
enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, e técnicos em radiologia –
que o limite de horas extras seria de até 30 no primeiro mês, 20 no segundo e,
a partir do terceiro mês, não seria mais permitida a realização de horas
extraordinárias.
Ainda, segundo a denúncia, é a
condição de que, caso desejassem realizar plantões adicionais, os servidores
teriam que ser contratados por meio de uma empresa terceirizada, a CISMETRO,
com uma remuneração "extremamente inferior" à praticada anteriormente.
O sindicato argumenta que essa medida desrespeita direitos previstos no
Estatuto do Servidor Público (Lei Municipal nº 1.972/72) e na Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), ferindo a legalidade e desvalorizando o servidor
concursado.
O Sindicato informou que, a
situação acaba se agravando com a existência de concursos públicos recentemente
homologados, como o de número 006/2024, de 15 de maio de 2025, que contempla
cargos como técnicos de enfermagem e enfermeiros. Apesar disso, a Prefeitura
estaria optando por contratações terceirizadas, o que, para o sindicato,
"burla o princípio constitucional da obrigatoriedade do concurso público
para atividades-fim" da administração.
O artigo 37 da Constituição
Federal estabelece que funções públicas permanentes devem ser ocupadas por
servidores concursados, e a terceirização de atividades-fim seria um desvio de
finalidade, comprometendo a qualidade do serviço público.
O sindicato "repudia
veementemente a tentativa da Prefeitura de desvalorizar o servidor público por
meio de medidas arbitrárias, injustas e, possivelmente, ilegais". A
entidade protocolou representações junto aos Ministérios Públicos e solicitou
uma reunião urgente com a Secretaria de Saúde e a Procuradoria Geral do
Município. “Não é justo os trabalhadores experientes, que dedicam suas vidas ao
atendimento da população no SUS, aceitarem valores irrisórios por seu trabalho,
sem qualquer garantia legal, enquanto o próprio município mantém concursos
homologados sem convocar os aprovados”, afirmaram os dirigentes sindicais.
Questionada, a Prefeitura de
Piracicaba emitiu uma nota explicando que, ao assumir a administração
municipal, a atual gestão "encontrou um cenário no qual era gasto, em
média, mais de R$ 1 milhão em horas extras por mês".
Diante disso, a prefeitura afirma que está tomando medidas para a redução desse valor, como a revisão de escalas, reorganizações administrativas e um controle mais rígido sobre as horas extras. A Secretaria de Saúde informou que está "revendo a recente decisão de contingenciamento das horas extras, de forma a não gerar prejuízos aos servidores, mas obedecendo aos princípios constitucionais de eficiência e economicidade."
Texto e Publicação Danilo Telles / TV Metropolitana