Número divulgado representa aproximadamente 68,58% do total
de alunos da educação especial na rede de ensino de Piracicaba (SP).
Dos 1582 alunos da educação especial
na rede de ensino de Piracicaba (SP), 1085 são alunos com Transtorno do
Espectro Autista (TEA) já diagnosticados
e 65 em processo de diagnóstico, informou a secretária de Educação, Juliana Vicentin,
em audiência pública realizada na noite de terça-feira (11), na Câmara
Municipal de Piracicaba.
Vereadores, profissionais da educação e familiares de estudantes trouxeram o tema para discutir a proposta de criação de um grupo voltado a melhor compreender a dinâmica de ensino, atendimento e acolhimento dos alunos com TEA (Transtorno do Espectro Autista) matriculados em escolas do município. A ideia da proposta é sistematizar e dar sequência aos diversos apontamentos e questões trazidas durante a audiência, por vereadores e profissionais da educação e saúde, aos representantes do Executivo municipal.
Durante o encontro, foram
apresentadas dificuldades relacionadas à eventual falta de profissionais
auxiliares em salas de aula, à necessidade de maior capacitação por parte das
equipes para melhor lidar com as demandas específicas das crianças com TEA, à
quantidade de alunos por sala de aula, sobre as chamadas “dobras” de
professores para atenderem mais de uma sala de aula e sobre a obtenção de
laudos e diagnósticos específicos e outros.
QUESTIONAMENTOS
Após a abertura dos trabalhos,
Adriano Turin, presidente da Associação Entender para Incluir e representante
do Projeto Samuel, disse ter observado “a crescente preocupação das mães e
familiares, que muitas vezes se sentem desamparados e desinformados sobre as
ações que o município está tomando para oferecer apoio. Além disso, os
professores têm enfrentado sobrecarga, carecendo de ferramentas adequadas para
lidar com a realidade das crianças autistas em salas de aula”.
Ele ainda classificou a
situação das mães atípicas como “alarmante, já que a cada 10 mães, 6 criam seus
filhos sozinhas. “Elas saem de casa para levar seus filhos à escola e, em
seguida, enfrentam o dilema de receber uma ligação pedindo para que retornem à
escola pois seus filhos estão em crise. Essas mães muitas vezes correm o risco
de perder seus empregos mas, por necessidade, acabam buscando seus filhos e, ao
chegar à escola, enfrentam a pressão de oferecer um diagnóstico a essa criança
para que a escola saiba o que essa criança tem. A pergunta que fica é, como
obter esse diagnóstico se não há médicos disponíveis na rede pública de saúde
para esse tipo de atendimento, como renovar um diagnóstico se o sistema SUS não
oferece esse serviço?”, questionou.
De forma semelhante, a
terapeuta ocupacional Allana Jerônimo defendeu a necessidade de maior
capacitação e estrutura nas escolas para o correto atendimento aos alunos com
TEA: “O que fazer uma criança em crise na escola? Ligar para a mãe ir buscar?
Vai resolver como? Eu preciso de estratégias, os professores precisam saber
lidar com isso”, disse.
“Tudo o que queremos é ajuda e
compreensão. Só precisamos ser compreendidos. Os professores que estão em sala
de aula também estão pedindo isso”, acrescentou a terapeuta ocupacional.
Em sua fala, a fonoaudióloga
Michelly Basso frisou a importância do estudo e conhecimento sobre o tema para
que os questionamentos e cobranças sejam corretamente direcionados: “muitas
vezes não sabemos o que pedir. Muitas vezes, quem está buscando soluções não
sabe como nem o que fazer. A primeira coisa que sugiro a todos os presentes é
que busquem o documento “Manual de atuação do Ministério Público em Defesa da
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”.
Ainda de acordo com a
fonoaudióloga que atende crianças com TEA, “existe uma confusão tremenda entre
quem é o professor regente, quem é o profissional de apoio e que é o professor
de AEE (Atendimento Educacional Especializado). São figuras completamente diferentes
e que precisam trabalhar de mãos dadas. O que está acontecendo é uma sobrecarga
sobre um único profissional ou uma confusão geral onde cada um atira para um
lado e as pessoas não se conversam. A gente precisa saber qual é a real
atribuição de cada um desses profissionais”.
Além da participação dos
vereadores e profissionais que compuseram a mesa dos trabalhos, diversas
perguntas de familiares e de profissionais da educação, feitas de forma
on-line, foram dirigidas aos representantes do Executivo.
Ações adotadas - Juliana
Vicentin, secretária municipal de Educação, apresentou diversas ações e
iniciativas da pasta, e destacou que a inclusão se dá por meio do acesso,
permanência, participação e aprendizagem.
No início de sua fala, ela
também frisou que o Numape (Núcleo Municipal de Apoio Pedagógico de Educação
Especial) não foi extinto, mas sim fisicamente transferido para o prédio da
Pasta: “ninguém acabou com o Numape, muito pelo contrário. A nossa ideia é
aproximar e fortalecer”.
Segundo a secretária, de 2020
a 2025, no Numape, houve um aumento do número de professores do AEE (de 33 para
81); do número total de atendidos (de 615 para 1582); e de salas de recursos
(de 17 para 56).
Ainda de acordo com a titular
da pasta, dos 1582 alunos da educação especial na rede, 1085 são alunos com TEA
já diagnosticados e 65 em processo de diagnóstico.
“Nós já temos 65 em hipótese
que, independentemente de laudo médico, precisam do atendimento e estão sendo
atendidos com auxílio, com AEE, com salas de recursos, com itinerância (visitas
às escolas com orientações para professores e acompanhamento do cotidiano
escolar), enfim, com o que precisar”, falou.
Ela ainda pontuou que a
disponibilização dos chamados profissionais de apoio, que são aqueles que
auxiliam os alunos com necessidades especiais em atividades como alimentação,
higiene e locomoção e outras, é avaliada com base na perspectiva pedagógica, de
cunho estritamente educacional. “Quem diz o tipo de apoio que a criança precisa
dentro da escola é o profissional especializado. Não é o diretor, não é
professor, não é o médico. São os especialistas que estão dentro do Numape. É
isso que diz a lei”.
Sobre as chamadas “dobras”
realizadas por professores, ela afirmou: “contrariando o que se disse, que foi
impedido que haja horas extras no atual governo, eu digo a vocês que nós
começamos com 995 profissionais de apoio, dobras, sem contar os profissionais
que estão dobrando por conta das turmas sem professores, seja por causa de
exoneração, aposentadoria ou afastamentos e licenças longas”.
Ela, no entanto, afirmou que o
número de horas extras geradas pela Prefeitura têm sido tema de apontamentos
dos órgãos externos de fiscalização, como o Tribunal de Contas do Estado de São
Paulo.
A titular da Educação ainda
disse que a pasta busca constantemente realizar chamamentos dos profissionais
já aprovados nos concursos em vigor, bem como estuda a possibilidade de novos
editais, a fim de se contratar mais profissionais.
Sobre a distribuição dos
profissionais e o agrupamento dos alunos com TEA nas salas de aula, Juliana
Vicentim disse que a organização das turmas se dá no fim do ano letivo, mas
que, com o início de um novo ano, com a rotatividade de estudantes, transferências
e entradas de novos alunos, esse planejamento precisa constantemente
readequado.
A secretária também pontuou
que não existe uma legislação nacional que uniformize o número de alunos com
TEA por turma, e que a demanda de um profissional de apoio se justifica quando
determinada necessidade específica não puder ser atendida no contexto geral dos
cuidados disponibilizados aos demais estudantes.
Segundo Vanessa Souto,
Diretora do Numape, as salas de aulas das escolas municipais não estão
superlotadas, e respeitam os módulos previstos nos planos de educação. “As
nossas escolas têm módulos. Existem, sim, salas em que temos duas, três, quatro
crianças com deficiência, mas não no sentido de que as juntamos para colocar um
auxiliar só, mas no sentido de que às vezes temos três primeiros anos e 11
crianças com deficiência, aí eu tenho que dividir. E várias dessas salas contam
com dois profissionais de apoio”.
PROPOSTAS
Além da criação de um grupo
para ampliar o debate e pensar em ações e estratégias focadas na melhoria do
atendimento às crianças e familiares de alunos com TEA, os presentes também
propuseram a criação de uma ouvidoria específica com o intuito de colher sugestões
e reclamações das equipes escolares, de forma anônima, a fim de viabilizar uma
comunicação mais efetiva com o alto escalão da pasta; analisar a possibilidade
de novos concursos públicos para a Educação, além de se estudar a viabilidade
de um possível aumento na remuneração dos auxiliares de educação
educativa.
“Iremos, depois, encaminhar o
relatório desta audiência. Precisamos verificar a questão dos concursos
públicos, pedir ao prefeito esse concurso com urgência. Precisamos fazer uma
gestão sobre a falta de auxiliares de educação, fazer um pente-fino, passar em
todas as escolas, e quero até pedir o acompanhamento da Comissão Permanente de
Educação da Câmara. A Câmara não é oposição, não somos oposição, somos o poder
de auxílio, de fiscalização. A população se sente segura em falar conosco.
Outra coisa, precisamos de um projeto de lei para aumentar o salário dos
auxiliares, temos que trabalhar para isso, com unidade. O sindicato tem que ser
participante, a Câmara e os professores”, disse Relinho.
“Esse foi apenas o primeiro
passo. Em duas horas e meio não é possível resolver tudo, mas demos o primeiro
passo. Daremos outros passos e continuaremos até resolver os problemas”,
concluiu o presidente da Câmara.
A audiência pública foi
realizada com base em solicitação feita pelo vereador Rerlison de Rezende
(PSDB), o Relinho, Presidente da Câmara, e pelo vereador Fábio Silva
(Republicanos) por meio do requerimento
nº 156/2025, igualmente subscrito por outros 14 parlamentares.
Por: Da redação | Câmara de
Piracicaba